A estranha Sally Diamond - Liz Nugent

 

Liz Nugent apresenta ao leitor uma história eletrizante, na qual conhecemos Sally Diamond, uma mulher com um passado conturbado. A trama, que se desenrola como um quebra-cabeça macabro, conduz o leitor por uma jornada sombria e intrigante pela mente de uma mulher que luta para reconstruir sua identidade após um passado violento e marcado pela amnésia.

A protagonista, Sally Diamond, vive em um pequeno vilarejo na Irlanda, onde mora com seu pai. Sally não possui amigos nem uma vida social ativa, pois, segundo seu pai, ela é “desconectada emocionalmente”. Esse traço contribui para sua dificuldade em se relacionar com outras pessoas.

Apesar de sua mente funcionar perfeitamente, Sally não tem lembranças de sua infância e interpreta tudo de forma extremamente literal. Essa característica é evidenciada quando, ao seguir as instruções deixadas por seu pai, ela queima seu corpo após sua morte, acreditando estar apenas atendendo a um pedido dele.

A partir desse ponto, o livro nos conduz a uma compreensão mais profunda do passado de Sally. A autora mostrada com maestria como uma tragédia pode moldar tanto o passado quanto o presente daqueles que a vivenciam. Liz Nugent faz um trabalho notável ao desenvolver os personagens, especialmente Sally, cuja complexidade e nuances tornam uma história ainda mais cativante. Além disso, os demais personagens são igualmente bem construídos, com histórias e traumas próprios que enriquecem a narrativa.

Acompanhar a evolução de Sally e de outros personagens foi algo que me encantou. É fascinante observar como Sally aprende sobre a importância da amizade, do amor e dos vínculos humanos.

A leitura provoca reflexões profundas sobre o que significa ser “normal” e como nossas experiências moldam quem somos. A escrita ágil e cativante da autora mantém o leitor preso do início ao fim.

O livro aborda questões delicadas como violência doméstica, abuso sexual, trauma, identidade e busca por redenção, promovendo uma reflexão sobre a complexidade da natureza humana.

O final, confesso, me deixou com uma grande sensação de revolta. Após acompanhar toda a transformação de Sally e suas superações, é difícil aceitar o desfecho proposto. Contudo, ao refletir, percebo que a intenção do autor foi mostrar que as marcas do passado nem sempre podem ser apagadas e que a vida real nem sempre é como nos contos de fadas.

Recomendo este livro para aqueles que buscam uma leitura intensa, cheia de reviravoltas e que querem questionar a fragilidade e a resiliência humana.